Métodos da Filosofia



Justificação lógico-racional e análise crítica































Em Filosofia, tudo é problema. Além do problema da sua definição, em Filosofia é também polêmico o objecto de estudo, a linguagem da Filosofia e o próprio método filosófico.


Sendo a Filosofia um modo específico de apropriação do real por parte do Homem, ela implica o recurso a determinado método, ou seja, um conjunto de processos, modos específicos de fazer e de interrogar o mundo e de se situar perante ele e de o construir. O método da Filosofia não é o método científico utilizado pelas ciências exactas, que se baseia na observação e experimentação de factos para a construção de conhecimento.


A forma de produção de conhecimento em Filosofia baseia-se no pensamento, não tem necessidade de provas formais, e faz-se essencialmente através da colocação de questões, da argumentação, na produção de idéias, na sua refutação e na análise de conceitos.










A importância do método para a realização da Filosofia levou certos filósofos a entender o método como o problema fundamental da Filosofia. A título de exemplo, temos Descartes, filósofo francês (1596-1650) que escreveu O Discurso cio Método, obra que marcou grandemente a tradição filosófica, e onde sugere a uniformização de um método para a Filosofia.


Dos vários métodos sugeridos ao longo dos séculos por vários filósofos para o trabalho filosófico, destacam-se: o método analítico, o método socrático, o método sintético, o método dialéctico, o método fenomenológico, etc.


Todavia, apesar desta pluralidade, há dois métodos comummente usados em Filosofia, que abrangem os outros: o método crítico-analítico - para o estudo de realidades sociais e que se apoia nos factos, procedendo à sua análise e crítica - e o método lógico-racional ou simplesmente especulativo, usado para o estudo de realidades meta-empíricas, isto é, realidades espirituais ou ainda realidades de ordem teórica, cuja análise requer o uso exclusivo da razão pura, sem se apoiar em factos.






A atitude filosófica e a demanda da verdade


O termo «demanda» significa procura, busca daquilo que certamente constitui necessidade para o Homem. E procuramos os bens e serviços que podem satisfazer as nossas necessidades em vários lugares, de acordo com a sua especificidade: na machamba, no mercado, na loja, na interação com os outros. Por sua vez, e a um nível diferente, quando sentimos necessidade de saber mais sobre a realidade, de conhecer profundamente, de descobrir a verdade última de todas as coisas, as questões e tentativas de respostas poderão ser encontradas na Filosofia. A Filosofia quer conhecer mais profundamente, e para isso é necessário que se questione o real e não se aceite o que é evidente ou dado de forma dogmática como certo e inquestionável.


O espírito filosófico é orientado para a resolução de problemas que preocupam a humanidade. Sempre que se coloca um determinado problema filosófico, o filósofo é chamado a reflectir sobre ele na tentativa de encontrar uma solução que se presuma apropriada.


Ao longo da história da Filosofia, vários temas se colocaram e múltiplas respostas foram obtidas. Na Época Antiga, colocou-se o problema da natureza da Natureza, ou seja, da origem da Natureza, pelos chamados natu¬ralistas; os sofistas, pensadores de uma corrente filosófica da Grécia antiga, colocaram os problemas relativos ao Homem; na Idade Média o problema de Deus estava no centro das atenções; na Época Moderna reaparece, com o Renascimento, o problema humano, sendo até assumido como o centro do mundo; na Filosofia actual, com a «crise das metanarrativas» (pensamento generalista, de explicação do mundo e do Homem) predomina a ideia da razoabilidade e o estabelecimento de fundamentos suficientes e historicamente contextualizados.










É esta a dinâmica da Filosofia no tempo, que é impulsionada pela sempre crescente vontade de se chegar à verdade sobre os problemas prementes em cada época histórica e em cada sociedade. Portanto, o fim último da Filosofia é a procura da verdade, contextualizando-a na história e no tempo.


A atitude filosófica não é urna atitude natural. Qualquer indivíduo, de forma imediata face à realidade, não começa a examiná-la de forma especulativa. Pelo contrário, o que é natural é que se centre na resolução de problemas práticos, que se guie pelo senso comum (pensamento popular), tendo em vista resolver certas necessidades imediatas ou interesses concretos (atitude natural).


Com efeito, ninguém pode viver sem se adaptar constantemente às condições do seu mundo. Estas exigências de sobrevivência tendem, natural mente, a sobrepor-se a todas as outras preocupações.


Embora o Homem seja inseparável das suas circunstâncias, não pode, todavia, ser reduzido a um simples produto das mesmas.


Ele está permanentemente a ser confrontado com novos problemas que o colocam perante novas situações imprevisíveis e que o obrigam a alargar os seus horizontes de compreensão da realidade. Cada mudança pode representar, assim, uma nova possibilidade de ampliar o conhecimento. É uma possibilidade, não algo que tenha que acontecer a todos os homens nas mesmas circunstâncias e em todas as ocasiões.


Estas mudanças frequentemente inquietam-nos ou maravilham-nos, despertando a nossa curiosidade sobre o porquê das coisas, levando-nos a questionar o que nos rodeia. Ao fazê-lo, estamos a distanciar-nos da realidade que, de repente, se tornou estranha ou mesmo enigmática. Esta atitude reflexiva, pode conduzir-nos a uma atitude mais radical: a atitude filosófica.


A atitude filosófica, que decorre do quotidiano, não é, como vimos, redutível ao mesmo. Não é fácil caracterizá-la, dada a enorme diversidade de aspectos que pode assumir. Vejamos apenas quatro aspectos que caracterizam a atitude filosófica.







O espanto


Aristóteles afirmava que a Filosofia tinha a sua origem no espanto, na estranheza e perplexidade que os homens sentem diante dos enigmas do universo e da vida. É o espanto que os leva a formular perguntas e os conduz à procura das respectivas soluções. Como refere Eugen Fink, o espanto torna o evidente em algo incompreensível, o vulgar em extraordinário, O espanto no indivíduo rompe com a tendência «natural» de achar que a ordem das coisas no mundo à nossa volta é simplesmente óbvia, que «as coisas são como são porque tinham de ser assim mesmo».













A dúvida


Ao filósofo exige-se que duvide de tudo aquilo que é assumido como uma verdade adquirida. Ao duvidar, o filósofo distancia-se das coisas, quebrando desta forma a sua relação de familiaridade com elas. O que era natural torna-se problemático. O que então emerge é urna dimensão inquietante de insatisfação e problematização. A reflexão começa exactamente a partir do exame daquilo que se pensa ser verdadeiro. A dúvida exige, do filósofo, uma reflexão sobre as coisas.













O rigor


O questionamento radical que an i ma o verdadeiro filósofo não é mais do que um acto preparatório para fundar um novo saber sobre bases mais sólidas. O conhecimento em si funda-se na crítica e no rigor. A atitude do filósofo (e do aprendiz de filósofo) perante o conhecimento é de crítica, ou seja, este questiona e avalia constantemente o seu próprio conhecimento, colocando sempre em dúvida a verdade e adequação ao real desse mesmo conhecimento. Tem consciência dos limites do conhecimento e questiona-se, colocando sempre sob crítica e auto-avaliação o seu próprio conhecimento.


A crítica filosófica é, por isso, feita com rigor, não admite compromissos com as ambiguidades, as idéias contraditórias, os termos imprecisos.





A insatisfação




A Filosofia revela-se uma desilusão para quem quiser encontrar nela respostas para as suas inquietações. O que o aprendiz de filósofo encontra na Filosofia são perguntas, problemas e incitamentos para que não confie em nen huma autoridade exterior à sua razão, para que duvide das aparências e do senso comum. A única «receita» que os fi lósofos lhe dão é que faça da procura do saber um modo de vida, que não se satisfaça com nen huma conclusão, queira saber sempre mais e mais.













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