Pensamento e ensino-aprendizagem

1. Procedimentos do
pensamento no processo de ensino e aprendizagem
1.1. Pensamento
De acordo com Rodrigues
e Bila (s/a:187) o pensamento é o processo de análise e
síntese, é colocado como processo cognitivo que conduz as características mais
gerais e essenciais, ao conhecimento abstracto, conceptual. Ele conduz aos
conhecimentos mais profundos, de modo a ser capaz de organizar actividades de
aprendizagem.
Pensamento é visto como
processo de composição mental de um todo em partes para descobrir suas
características, e da síntese como o processo de reunião mental das partes para
discobrir sua relações e particularidades mais gerais e importantes.
Pensamento e
pensar são, respectivamente, uma forma e processo mental ou faculdade do
sistema mental. Pensar permite aos seres modelarem o mundo e com isso lidar com
ele de uma forma efectiva e de acordo com suas metas, planos e desejos.
Palavras que se referem a conceitos e processos similares incluem cognição,
senciência, consciência, ideia e imaginação.
O pensamento é
considerado a expressão mais "palpável" do espírito humano, pois
através de imagens e idéias revela justamente a vontade deste.
O pensamento é
fundamental no processo de aprendizagem (vide Piaget). O pensamento é construto
e construtivo do conhecimento.
O principal veículo do
processo de conscientização é o pensamento. A actividade de pensar confere ao
homem "asas" para mover-se no mundo e "raízes" para
aprofundar-se na realidade.
Etimologicamente, pensar
significa avaliar o peso de alguma coisa. Em sentido amplo, podemos dizer que o
pensamento tem como missão tornar-se avaliador da realidade.
Segundo Descartes
(1596-1650), filósofo de grande importância na história do pensamento, "a
essência do homem é pensar". Por isso dizia: "Sou uma coisa que
pensa, isto é, que duvida, que afirma, que ignora muitas, que ama, que odeia,
que quer e não quer, que também imagina e que sente".
O pensamento faz a
grandeza ou a pequenez do homem. A grandeza decorre do pensamento bem pensado,
que avalia a multiplicação do real e se esforça para desvendá-lo atentamente,
saboreando sua riqueza e diversidade. Tal pensamento aprendeu a filosofar: a
desejar amorosamente a verdade, a amar a sabedoria.
A pequenez humana
decorre do pensamento obscuro, mesquinho que desconhece o sabor da busca do
saber. Esse tipo de pensamento transforma-se em meio de ocultação da realidade.
Por meio dele a atividade pensante, em vez de servir à liberdade pode
transformar-se em instrumento de dominação social.
1.1.1. Características
de pensamento
- O pensamento lógico se caracteriza
por operar mediante conceitos e raciocínios;
- O pensar sempre responde a uma
motivação, que pode estar originada no ambiente natural, social, cultural
ou no sujeito pensante;
- O pensar é uma resolução de
problemas. A necessidade exige satisfação;
- O processo de pensar se representa
como uma totalidade coerente e organizada, no que diz respeito a seus
diversos aspectos, modalidades, elementos e etapas;
- O pensamento é simplesmente a arte de
ordenar as matemáticas e expressá-las através do sistema linguístico;
- O pensamento surge com base na
actividade prática;
- Generaliza os dados sensoriais
obtidos pelas sensações e percepção passando a conhecer aquilo que não é
acessível à percepção e às sensações.
1.1.2. Processo de
pensamento
Os principais processos
de pensamento ou operações racionais são:
- A análise: Divisão
mental, ou seja, o pensamento se divide em duas formas, esquerda e
direita. Consiste em destacar no objecto os diversos elementos,
propriedade, ligações e relação. É a divisão do objecto sujeito à cognição
em diversas components. Por exemplo: Para compreender o mecanismo de
funcionamento de um motor eléctrico é preciso em primeiro lugar saber qual
é a constituição do motor, as peças (rótor, estátor e enrolamentos),
destacar os seus diversos elementos e desmontá-lo nas suas componentes.
- A síntese: Se reúne todo
o processo mental para logo ser analisado ou decorado. Na síntese
verifica-se a unificação e a confrontação dos elementos em que o
respectivo objecto foi dividido. É a descoberta das relações entre os
elementos e construção, coordenação mental de tudo o que foi desmembrado
pela análise num conjunto unificado.
Por exemplo na síntese o
aluno identifica a principal função de cada uma das peças no funcionamento do
motor eléctrico.
- A abstração: Operação
que consiste em mostrar mentalmente certos traços, geralmente ocultados
pela pessoa, distinguindo-se de pensamentos e anexos acidentais, primários
e precedendo aqueles pensamentos.
Consiste em pôr de lado
todas qualidades não essenciais de um grupo de objectos ou fenómenos e destacar
as essências.
Por exemplo: na
abstração o aluno destaca as todas as peças-chave que permite o funcionamento
de motor eléctrico e identifica as que pode podem ser dispensadas, as que com
elas ou sem o motor eléctrico poderá funcionar normalmente.
- A generalização: Processo no
que se estabelece o comum de um conjunto de objetos, fenômenos ou
relações.
Consiste em destacar nos
objectos comparados, os elementos comuns e essenciais. Por exemplo: O aluno
identifica outras peças semelhantes que possam existir e podem servir de
alternativa para o funcionamento do motor eléctrico.
Entre esses processos
principais tem outros como:
- Comparação: Estabelece
semelhanças e diferenças entre objetos e fenômenos distintos da realidade;
- Racional: É o
pensamento humano quando conduzido de acordo com a razão, ou seja, o
pensamento logico, o raciocínio, livre das perturbações da emoção, do
sentimento, etc.
1.2. Tipos de
pensamento
- Pensamento criativo: aquele que se
utiliza da criação ou modificação de algo, introduzindo novidades, ou
seja, a produção de novas ideias para criar ou modificar algo existente;
- Pensamento sistêmico: é uma visão
completa de múltiplos elementos com suas diversas inter-relações.
Sistêmico deriva da palavra sistema, o que nos indica que devemos ver as
coisas de uma forma inter-relacionada;
- Pensamento crítico: examina a estrutura
dos raciocínios, e tem uma vertente analítica e avaliativa. Tenta superar
o aspecto mecânico do estudo da lógica;
- Pensamento interrogativo: é um pensamento
com o que se faz as perguntas, identificando o que interessa a alguém
saber sobre um determinado tema.
1.3. Solução de
problemas
Segundo Davidoff, o ser
humano está continuamente enfrentando problemas que vão desde os mais triviais
até os mais importantes. Durante a solução de problemas as pessoas têm um
objectivo, enfrentam dificuldades e trabalham para superar os obstáculos e atingir
o objectivo (Vinackle, 1974).
Ao ter uma solução do
problema a pessoa primeiro deve identificar um desafio e prepara-se para ele e
depois trabalha para resolvê-lo e finalmente avalia a solução. Todo isso a
pessoa precisa de um processo de pensamento.
1.4. Procedimento do
pensamento
Os procedimentos do
pensamento:
1.4.1. Indução
Indução o processo
inverso do pensamento dedutivo, é o que vai do particular ao geral. A base é a
figuração de que se algo é certo em algumas ocasiões, o será em outras
similares, mesmo que não se possam observar.
Trata-se de um
procedimento do pensamento do pensamento que se designa de indução, o qual
permite partir de um caso, ou, ou casos particulares, para se chegar à
conclusão geral.
Através de indução é
possível conduzir os alunos a chegar a conceitos, leis, princípios, compreensão
de procedimento.
1.4.2. Dedução
É um procedimento de
pensamento que vai do geral ao particular. É uma forma de raciocínio em que se
atinge a conclusão a partir de uma ou várias premissas.
A dedução consiste
em partir de uma formação geral e concluir sobre um caso ou casos particulares.
A utilização da dedução para levar os alunos à aprendizagem de conceitos só é
aconselhável quando os alunos possuem experiências anteriores, imagens vivas
sobre objectos, coisas e fenômenos com base nos quais se pretende construir o
conceito.
Estes dois
procedimentos do pensamento, indução e dedução também se designam de forma de
raciocínio que o aluno utilize para chegar aos conhecimentos. Cabe ao professor
organizar actividades para conduzir o aluno a induzir e/ou a deduzir e, deste
modo, chegar a conhecimentos, de acordo com os conteúdos a tratar.
A indução e dedução são
dois procedimentos fundamentais que o aluno utilize no processo de ensino-
aprendizagem. O professor deve organizar os passos da aula de modo indutivo
e/ou dedutivo para conduzir o aluno a chegar a conhecimentos, princípios ou
leis, ou seja, tem que considerar as particularidades cognitivas do aluno.
2. O processo de
aprendizagem
O processo de aprendizagem
ou aprender pode ser definido de forma sintética como o modo como os seres
adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comportamento.
Contudo, a complexidade desse processo dificilmente pode ser explicada apenas
através de recortes do todo.
Segundo alguns
estudiosos, a aprendizagem é um processo integrado que provoca uma
transformação qualitativa na estrutura mental daquele que aprende. Essa
transformação se dá através da alteração de conduta de um indivíduo, seja por
Condicionamento operante, experiência ou ambos, de uma forma razoavelmente
permanente. As informações podem ser absorvidas através de técnicas de ensino
ou até pela simples aquisição de hábitos. O ato ou vontade de aprender é uma
característica essencial do psiquismo humano, pois somente este possui o
caráter intencional, ou a intenção de aprender; dinâmico, por estar sempre em
mutação e procurar informações para a aprendizagem; criador, por buscar novos
métodos visando a melhora da própria aprendizagem, por exemplo, pela tentativa
e erro.
De acordo com Hilgard e
Rown (1975:17) citado por Mwamwenda (2005:163) a aprendizagem refere-se à
mudança de comportamento do sujeito face a dada situação que é realizada de
acordo com as experiências repetidas nessa mesma situação, fazendo com que a
mudança de comportamento não possa ser explicada com base nas tendências de
resposta inatas de maturação, ou no estudo temporário do sujeito.
Mwamwenda indica que
aprendizagem é um processo contínuo desde o momento que a pessoa nasce até no
fim da sua vida. Isto ocorre conscientemente ou conscientemente. Isto não
ocorre só na escola através do esforço consciente do professor para transmitir
a informação mas também em casa na interacção dos pais e outros.
O ser humano nasce
potencialmente inclinado a aprender, necessitando de estímulos externos e
internos (motivação, necessidade) para o aprendizado. Há aprendizados que podem
ser considerados natos, como o ato de aprender a falar, a andar, necessitando
que ele passe pelo processo de maturação física, psicológica e social. Na
maioria dos casos a aprendizagem se dá no meio social e temporal em que o
indivíduo convive; sua conduta muda, normalmente, por esses factores, e por
predisposições genéticas.
Segundo os behavioristas
a aprendizagem é uma aquisição de comportamentos através de relações entre
ambiente e comportamento, ocorridas numa história de contingências,
estabelecendo uma relação funcional entre Ambiente e Comportamento
2.1. Leis da
aprendizagem
Mwamwenda (2005:176)
aponta três leis da aprendizagem que são:
- Do efeito: Este lei
afirma que um estado de satisfação leva à repetição de um determinado
comportamento e insatisfação leva ao enfraquecimento da resposta;
- Da maturação específica
(prontidão): A pessoa lida com um certo comportamento e
fornecer a oportunidade à lidar com esse comportamento levará a que toda a
experiência seja satisfeita e agradável;
- Do exercício: Uma forte
conexão que é estabelecida entre estímulo e resposta é resultado da prática.
De verdade a prática faz perfeição.
2.2. Principais
Características de Aprendizagem
As seguidas são
principais características do processo de aprendizagem:
- O indivíduo é visto como activo em
todo o processo;
- A aprendizagem é sinónimo de
comportamento adquirido;
- O reforço é um dos principais motores
da aprendizagem;
- A aprendizagem é vista como uma
modelagem do comportamento.
Em algumas abordagens
cognitivas, considera-se que o homem não pode ser considerado um ser passivo.
Enfatiza a importância dos processos mentais no processo de aprendizagem, na
forma como se percebe, seleciona, organiza e atribui significados aos objetos e
acontecimentos.
De uma perspectiva
humanista existe uma valorização do potencial humano assumindo-o como ponto de
partida para a compreensão do processo de aprendizagem. Considera que as
pessoas podem controlar seu próprio destino, possuem liberdade para agir e que
o comportamento delas é consequência da escolha humana. Os princípios que regem
tal abordagem são a auto-direção e o valor da experiência no processo de
aprendizagem. Preocuparam-se em tornar a aprendizagem significativa,
valorizando a compreensão em detrimento da memorização tendo em conta, as
características do sujeito, as suas experiências anteriores e as suas
motivações.
O indivíduo é visto como
responsável por decidir o que quer aprender. Aprendizagem é vista como algo
espontâneo e misterioso.
Numa abordagem social,
as pessoas aprendem observando outras pessoas no interior do contexto social.
Nessa abordagem a aprendizagem é em função da interacção da pessoa com outras
pessoas, sendo irrelevante condições biológicas. O ser humano nasce como uma
'tábula rasa', sendo moldado pelo contato com a sociedade.
2.3. Os estilos de
aprendizagem
Segundo a informação na
internet cada indivíduo apresenta um conjunto de estratégias cognitivas que
mobilizam o processo de aprendizagem. Em outras palavras, cada pessoa aprende a
seu modo, estilo e ritmo. As quatro categorias representativas dos estilos de
aprendizagem são:
- Visual: aprendizagem
centrada na visualização;
- Auditiva: centrada na
audição;
- Leitura/escrita: aprendizagem
através de textos;
- Activa: aprendizagem
através do fazer;
- Olfactiva: através do
cheiro pode possibilitar conhecimento já adquirido anteriormente, com o
deitar de gazes são exemplo de uma aprendizagem olfactiva.
3. O papel do
professor no processo de pensamento e ensino-aprendizagem
Neste caso cabem ao
professor criar condições na sala de aula que permitam aos alunos estarem
constantemente a pensar, analisar, reflectir em volta de temas de estudo. O
professor deve ensinar os alunos a saberem pensar de seguintes maneiras:
- Distribuir para os alunos trabalhos
de investigações acerca de assuntos sociais e relutantes;
- Criar situações de problemas para que
os alunos discutam entre si e investiguem de modo a chegarem a várias
soluções possíveis e identifiquem a que se adeque melhor ao problema;
- Selecionar casos, exemplos
ilustrativos do conceito, da lei ou do princípio em estudo. Deve preparar
actividade e respectivas instruções de modo a conduzir os alunos a
descobrirem as características mais gerais e essenciais de tais casos ou
exemplos ilusivos, e a atribuir-lhes uma designação. Caso não consigam
chegar ao termo designativo este poderá ser apresentado pelo professor;
Elaborar uma aula com
objectivo de conduzir aos alunos à aprendizagem de um conceito, uma lei ou um
princípio através da dedução deverá enunciar a definição geral do conceito e
apresentar exemplos ilustrativos e, em seguida convidar os alunos a
apresentarem seus exemplos ilustrativos.
Bibliografia
DAVIDOFF L.L. Introdução a Psicologia. Pearson Macron Book, Brasil:
2006.
MWAMWENDA, T.S. Psicologia Educacional, Uma Perspectiva
Africana. Maputo. Texto Editores, 2005.
RODRIGUES, A. & BILA, L. V. Módulo de Psicologia de
Desenvolvimento e de Aprendizagem. Maputo. Universidade Pedagógica. S/d.
SPRINTHAL, N.A. e SPRINTHAL, R.C. Psicologia Educacional, Uma
Abordagem desenvolvimentista. Lisboa, Editora Magraw-Hill, 1993.