Noção do juízo e proposição
O juízo foi designado tradicional mente como a segunda operação da mente, para distingui-lo do conceito, a primeira operação. Enquanto no conceito, o pensamento faz a apreensão das essências: «quadrado», «mesa», no juízo está em causa uma tomada de posição face a essas mesmas essências, por exemplo, «A mesa é quadrada.» O juízo é, assim, o acto mental pelo qual se afirma ou nega alguma coisa. Como tal, todo o juízo é susceptível de uma apreciação valora- tiva, em termos de verdade ou falsidade, consoante o seu acordo ou desacordo com a realidade. No exemplo dado, afirmamos da mesa que é quadrada, e, dependendo da realidade concreta a que nos referimos, esta afirmação será verdadeira ou falsa. Pode também definir-se o juízo como o processo que conduz ao estabelecimento das relações significativas entre conceitos, que conduzem ao pensamento lógico.
O juízo, como acto do pensamento, tem a sua expressão verbal na proposição ou no enunciado, da mesma forma que o conceito se materializa no termo. Contudo, é necessário distinguir o sentido gramatical do sentido lógico do termo «proposição», pois nem todas as proposições gramaticais são proposições lógicas ou correspondem a juízos.
Assim,
- as proposições interrogativas: «Qual o significado da existência?», «O jantar está pronto?»;
- as imperativas: «Faz o que deves!», «Não roubes!», «Arruma a casa!»;
- as interjeições: «Que calor!», «Meu Deus!»\
não exprimem juízos, precisamente porque não traduzem uma afirmação ou negação, e, como tal, não podem ser consideradas nem verdadeiras, nem falsas. Por outras palavras, só os enunciados ou frases que exprimem verdades ou falsidades recebem o nome de juízos, dado que expressam uma relação de concordância ou discordância entre dois conceitos ou termos considerados sujeito e predicado.
Desta forma, conceitos ou termos soltos como «Lurdes Mutola», «lápis de carvão», «José Craveirinha», não constituem proposições ou juízos, dado que não são susceptíveis de serem verdadeiros ou falsos. Serão ou formarão juízos ou proposições quando forem relacionados com algo:
«A Lurdes Mutola é uma atleta moçambicana.», «O lápis de carvão é barato.», «José Craveirinha é um herói nacional.»
Outro exemplo:
Ana universitária
É óbvio que não estamos perante um juízo. Estaremos perante um juízo se introduzirmos o verbo ser (na forma afirmativa ou negativa).
Neste caso, diriamos que:
Ana é universitária ou Ana não é universitária.
Entretanto, existem juízos que aparentemente não apresentam o verbo ser, como, por exemplo «João estuda.», «Joana existe.», etc., mas tradicionalmente aceita-se que estes juízos são equivalentes a «O João está a estudar.», «A Joana é existente.»