As migrações
A mobilidade espacial da população é commumente denominada por migração. Ela vem sendo realizada pelo Homem desde os tempos mais remotos.
No sentido lato, entende-se por migração uma mudança de domicílio ou de lugar de residência habitual de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos. Assim, podemos deduzir que as deslocações de pessoas ou grupos humanos, que abandonam os lugares onde se tinham fixado inicialmente, para se instalarem noutra região ou noutro país de forma temporária ou permanente, designam-se por migrações. Por conseguinte, as migrações constituem movimentos horizontais tendentes a um equilíbrio demográfico à superfície do globo.
Causas das migrações
As causas das migrações humanas são várias e bem complexas, pois para além de condições naturais e econômicas verificam-se, muitas vezes, razões de índole política, religiosa, étnica, social e moral. A causa econômica é a que se apresenta a maior parte das vezes em primeiro lugar, quase sempre resultante da diferença de desenvolvimento socioeconómico entre os lugares de partida e os de chegada. As pessoas emigram, por exemplo, à procura de melhores condições de vida, de trabalho, assistência social mais eficaz, entre outros.
As causas de natureza política, étnica e religiosa também têm quota-parte nas deslocações populacionais. Muitos indivíduos emigram porque, manifestando-se contra os regimes totalitários dos seus países, podem ver-se forçados a refugiarem-se no estrangeiro para evitarem as perseguições ou represálias, por exemplo.
Mais ainda, os violentos conflitos (como sucede actualmente a nível mundial), por exemplo, os da Somália, República Democrática do Congo, Burundi, Ruanda, Sudão, Palestina, Iraque, Afeganistão, entre outros locais, levam enormes massas populacionais a abandonarem os seus países e a fixarem-se noutros, à procura da paz e segurança.
À escala local, nacional e internacional, as calamidades naturais (secas, cheias, epidemias, sismos, vulcões, terramotos, ciclones, entre outras) são consideradas algumas das causas migratórias dos contingentes populacionais.
Tipos de migrações
Considerando os critérios duração, distância, causas e grau de liberdade, as migrações podem ser internas e internacionais.
As migrações dizem-se internas quando as deslocações se realizam de umas regiões para outras dentro do mesmo país, enquanto que as externas ou internacionais constituem movimentos horizontais das pessoas de um país para outro.
As migrações internacionais podem ser intracontinentais quando as pessoas deslocam-se no interior do mesmo continente e intercontinentais se as massas populacionais se movimentam de um continente para outro. Se estas últimas se efectuarem entre continentes separados por oceanos, dizem-se migrações transoceânicas.
Sobre as migrações internas, consideram-se três tipos, designadamente: migrações quotidianas, temporárias e definitivas.
As migrações quotidianas são aquelas que se realizam diariamente, especialmente nas grandes cidades e centros industriais, pelos trabalhadores das industrias ou serviços, bem como por estudantes e outros, que se deslocam das suas casas, geralmente situadas em locais distantes, para os seus locais de trabalho ou estudo e vice-versa. Por exemplo, grande parte dos alunos e trabalhadores deslocam-se diariamente da Matola para Maputo. Também se enquadram neste tipo de deslocações as que são efectuadas no fim-de-semana e em férias.
As migrações temporárias são as que se realizam com uma certa periodicidade, podendo ser de poucos meses a alguns anos. Por exemplo, as deslocações ligadas às épocas de colheita agrícola ou de sementeiras dos agricultores. A transumância também faz parte deste tipo de migração, sendo que é um movimento tradicional e característico das regiões montanhosas do globo, onde os pastores permanecem durante o Inverno nas planícies e vales com o seu gado e no Verão deslocam-se para as encostas montanhosas, realizando as actividades de pastorícia. Como exemplo de migrações internas de caracter definitivo, o êxodo rural tem uma importância especial. Para leia mente, as migrações internas periódicas tanto podem assumir um caracter quotidiano como um caracter sazonal. São exemplos de migrações sazonais as deslocações de caracter turístico e laborai, quando se processam à escala do país, pois estas decorrem sempre nas mesmas épocas do ano.
As migrações definitivas correspondem a uma fixação permanente das populações nas áreas de destino. Com muita frequência, as populações que migram definitivamente para outros países adquirem a nacionalidade desses países, a fim de usufruírem de mais direitos. De um modo geral, existem diversos critérios que nos permitem classificar as migrações:
- Distâncias: internas; Internacionais
- Duração: temporárias; Sazonais; Definitivas
- Forma: voluntárias; Forçadas
- Motivos: religiosos; Laborais; Políticos; Socioeconómicos; Culturais
- Controle: legais; Clandestinas.
O êxodo rural constitui um dos mais importantes tipos de migrações internas de carácter definitivo na actualidade, principalmente nos países em vias de desenvolvimento. Define-se êxodo rural como sendo a deslocação (saída) das pessoas do meio rural (campo) para a cidade.
Causas do êxodo rural
A despeito dos factores responsáveis pelo êxodo rural, as razões econômicas são as mais decisivas. No campo, a população vive em condições de vida normalmente inferiores às existentes nos meios urbanos, porque a cotação dos produtos agro-pecuários relativamente aos industriais é geralmente menor. Por isso os camponeses têm um menor poder aquisitivo.
Por outro lado, as condições laborais são frequentemente mais difíceis no campo do que nas cidades. A título de exemplo, mencionam-se os seguintes:
- baixos salários, reduzido poder de compra da população rural;
- alta de meios e vias de transporte e comunicação;
- falta de apoios médicos e assistência social;
- dificuldade de acesso a estabelecimentos de ensino, principalmente dos níveis secundários e universitários;
- más colheitas, desastres naturais (secas, cheias, pragas, etc.);
- desemprego;
- atracção psicológica exercida pelas melhores condições de vida nas cidades, entre outras
Consequências das migrações
As migrações têm consequências a vários níveis, quer de natureza demográfica, quer de natureza ambiental econômica e social. Por um lado, elas podem produzir uma melhor adaptação do povoamento aos recursos naturais e às necessidades da economia e conduzir a um melhor ordenamento do espaço geográfico. Por outro, elas criam contactos profundos entre grupos humanos com diferentes línguas e culturas, mas também podem causar graves problemas, com maior destaque para o fenômeno de rejeição.
Demográficas:
As migrações (internas, externas, difimtivas ou temporárias) provocam, quer nas regiões de partida, quer nas de chegada, alterações demográficas a três níveis: no crescimento demográfico, na estrutura etária e profissional e redistribuição espacial da população, com consequente aumento ou diminuição dos equilíbrios regionais. Rejuvenescimento da população no local de chegada e envelhecimento da população no local de partida.
Socioeconòmicas
Quando se verifica o fenômeno migratório, constitui sempre uma perda de capital humano para os países de origem, que vêem diminuída a sua população activa; visto que as migrações envolvem mais as camadas jovens e empreendedoras, beneficiando, na maior parte das vezes, os países de acolhimento. A falta de mão-de-obra pode ressentir-se nos diversos sectores de actividades, sobretudo na agricultura. Pode igualmente contribuir para uma mão-de-obra excedentária no local de chegada. Segregação étnica e social.
Ecológicas/ambientais
Maior pressão sobre os assentamentos; deficiente gestão dos resíduos sólidos; degradação dos recursos naturais e seu esgotamento; desertificação; eclosão de mórbides (doenças epidémicas- diarreias, cóleras, málaria, etc.) resultantes de precárias condições higio-sanitárias.
