Objecto e Funções da Filosofia

Universalidade e particularidade da Filosofia (objecto da Filosofia)
A prática reflexiva, ou simplesmente, a reflexão sobre a realidade que nos cerca, é a característica essencial da Filosofia. Através desta faculdade, a Filosofia procura responder às inquietações, às questões que a humanidade sempre colocou e se coloca. Porém, temos de nos acautelar, pois, nem todas as questões que são colocadas são filosóficas (como veremos no tema sobre a natureza das questões filosóficas). Por exemplo, a Filosofia não procura saber se o Homem é mortal ou como morre; quer, sim, saber por que razão o Homem é mortal. Esta e outras questões semelhantes são transversais a toda a humanidade no sentido em que esta é uma questão e um tema que interessam a todos e a cada um dos homens. Por esta razão, a Filosofia é também entendida como a ciência dos porquês. Pretende explicar o porquê de todas as coisas, procurando os fundamentos últimos, a origem e a explicação da vida e mundo humanos.
Vimos que a Filosofia é universal na medida em que o seu objecto de estudo é o todo e as suas questões são gerais (englobam a totalidade e dizem respeito a toda a humanidade) e não se relacionam com aspectos individuais e particulares da realidade. Dizemos também que a Filosofia é um saber universal porque todo o homem pode filosofar e ser filósofo.
Apesar de a Filosofia ser feita por respostas e teorias particulares (cada filósofo tem a sua teoria particular) e de todas as teorias dos vários filósofos ao longo da História da Filosofia serem fruto das circunstâncias particulares e das idéias historicamente contextualizadas de cada filósofo, chama-se Filosofia ao conjunto de todas essas teorias particulares reunidas num único saber universal.
Em suma, a Filosofia é um saber universal na medida em que engloba todas as «filosofias» particulares, de todos os tempos e lugares, e porque os problemas sobre os quais cada uma destas teorias filosóficas reflecte são problemas universais e atemporais, ou seja, interessam a todos os homens e em todas as épocas - os problemas e questões filosóficas são questões de sempre e abrangentes.

Funções da Filosofia (aspectos práticos e teóricos)
A Filosofia enquanto conhecimento sistemático é um conjunto de teorias estruturadas e sistematizadas. Constitui-se como um conjunto de conhecimento organizado, historicamente situado, dividido por áreas de saber filosófico e temáticas, correntes, autores e escolas de pensamento. Esta pluralidade de áreas e saberes advém da multiplicidade de respostas e ques¬tionamentos acerca da totalidade do mundo e da realidade humana, que, corno vimos, constituem o cerne e objecto da própria Filosofia e do filosofar (pensar próprio e autônomo que cada homem deve executar).
Com efeito, a Filosofia, além de ser um saber sobre o mundo, é uma forma de estar no mundo. Ela torna a existência humana mais consciente de si. A existência consciente é o tipo de existência que cabe ao Homem propriamente dito. A atitude existencial é a forma consciente de o Homem viver a sua vida no mundo e na sociedade. Portanto, a filosofia leva o Homem a uma nova forma de agir, reagir e comportar-se na vida, face ao mundo que se lhe apresenta.
A nossa experiência como seres humanos mostra-nos que experimentamos várias atitudes existenciais: podemos estar acordados ou adormecidos, conscientes ou inconscientes, absorvidos pelo trabalho, lúcidos ou iludidos, autônomos ou dependentes, contentar-nos com as aparências e com a satisfação de interesses imediatos ou podemos procurar a verdadeira natureza das coisas e descobrir assim os nossos autênticos interesses e objectivos de viver, lutar, trabalhar e morrer. Portanto, a Filosofia leva-nos a uma vida consciente da razão da nossa existência, ao mesmo tempo que orienta o nosso agir, como Descartes afirmou:
[...] viver sem filosofar é na verdade ter os olhos fechados, sem nunca se esforçar por os abrir; e o prazer de ver todas as coisas que a nossa vista descobre não é de modo nenhum comparável à satisfação que dá o conhecimento das coisas que se descobrem por meio da Filosofia; e, enfim, este estudo é mais necessário para orientar as nossas acções nesta vida do que o uso dos nossos olhos para guiar os nossos passos.
R. Descartes, Princípios da Filosofia


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