Andragogia

Andragogia

Educação de Adultos é uma prática tão antiga quanto a história da raça humana, ainda que só recentemente ela tenha sido objecto de pesquisa científica. Na antiguidade, como Confúcio e Lao Tsé, na China; Aristóteles, Sócrates e Platão, na Grécia antiga; Cícero, Evelid e Quintillian, na antiga Roma, foram também exclusivos educadores de adultos. A percepção desses grandes pensadores quanto à aprendizagem, era de que ela é um processo de activa indagação e não de passiva recepção de conteúdos transmitidos. Por isso suas técnicas educacionais desafiavam o aprendiz para a indagação.

Os gregos, por sua vez, inventaram o que se chama de Diálogo de Sócrates, no qual o líder, ou algum outro membro do grupo, apresenta seu pensamento e experiência para, a partir daí, os liderados buscarem solução para um determinado assunto. Os romanos, por outro lado, foram mais confrontadores. Eles usavam desafios para forçarem os membros de um grupo tomarem posição em defesa própria.

Apesar dos referenciais da antiguidade acima, a história explícita da Andragogia tem suas raízes na Pedagogia e por isso temos que resgatar um pouco da sua memória evolutiva.

No começo do século VII, foram iniciadas na Europa escolas para o ensino de crianças, cujo objectivo era preparar jovens rapazes para o serviço religioso -eram as conhecidas Catedrais ou Escolas Monásticas. Os professores dessas escolas tinham como missão a doutrinação dos jovens na crença, fé e rituais da Igreja. Eles ajuntaram uma série de pressupostos sobre aprendizagem, ao que denominaram de "pedagogia"- a palavra, literalmente, significa "a arte e ciência de ensinar crianças" (A etimologia da palavra é grega: "paido", que significa criança, e "agogus" que significa educar).

Esse modelo de educação monástico foi mantido através dos tempos até o século XX, por não haver estudos aprofundados de sua inadequação para outras faixas etárias que não a infantil. Infelizmente, ele veio a ser a base organizacional de todo o nosso sistema educacional, incluindo o empresarial. Entretanto, logo após a Primeira Guerra Mundial, começou a crescer nos Estados Unidos e na Europa um corpo de concepções diferenciadas sobre as características do aprendiz adulto. Mais tarde, após o intervalo de duas décadas, essas concepções se desenvolveram e assumiram o formato de teoria de aprendizagem, com o suporte das idéias dos pensadores a seguir:

 

Eduard C. Lindeman

Eduard C. Lindeman (USA) foi um dos maiores contribuidores para pesquisa da educação de adultos através do seu trabalho "The Meaning of Adult Education" publicado em 1926. Suas idéias eram fortemente influenciadas pela filosofia educacional de John Dewey:

A educação do adulto será através de situações e não de disciplinas. Nosso sistema académico cresce em ordem inversa: disciplinas e professores constituem o centro educacional. Na educação convencional é exigido do estudante ajustar-se ao currículo estabelecido; na educação do adulto o currículo é construído em função da necessidade do estudante. Todo adulto se vê envolvido em situações específicas de trabalho, de lazer, de família, da comunidade,entre outros- situações essas que exigem ajustamentos. O adulto começa nesse ponto. As matérias (disciplinas) só devem ser introduzidas quando necessárias. Textos e professores têm um papel secundário nesse tipo de educação; eles devem dar a máxima importância ao aprendiz.

A fonte de maior valor na educação do adulto é a experiência do aprendiz. Se educação é vida, vida é educação. Aprendizagem consiste na substituição da experiência e conhecimento da pessoa. A psicologia nos ensina que, ainda que aprendamos o que fazemos, a genuína educação manterá o fazer e o pensar juntos. A experiência é o livro vivo do aprendiz adulto.

Ensino autoritário; exames que predeterminam o pensamento original; fórmulas pedagógicas rígidas - tudo isto não tem espaço na educação do adulto... Adultos que desejam manter sua mente fresca e vigorosa começam a aprender através do confronto das situações pertinentes. Buscam seus referenciais nos reservatórios de suas experiências, antes mesmo das fontes de textos e factos secundários. São conduzidos à discussões pelos professores, os quais são, também, referenciais do saber e não oráculos. Isto constitui o manancial para a educação de adultos, o moderno questionamento para o significado da vida.

Uma das grandes distinções entre a educação de adultos e a educação convencional é encontrada no processo de aprendizagem em si. Nenhum outro, senão o humilde pode vir a ser um bom professor de adultos. Na classe do estudante adulto a experiência tem o mesmo peso que o conhecimento do professor. Ambos são compartilhados par- a-par. De facto, em algumas das melhores classes de adultos é difícil de se destinguir quem aprende mais: se o professor ou o estudante. Este caminho duplo reflecte também na divisão de autoridade. Na educação convencional o aluno se adapta ao currículo oferecido, mas na educação do adulto, o aluno ajuda na formulação do currículo... Sob as condições democráticas, a autoridade é do grupo. Isto não é uma lição fácil, mas enquanto não for aprendida, a democracia não tem sucesso.

Lindeman identificou cinco pressupostos-chave para a educação de adultos e que mais tarde transformaram-se em suporte de pesquisas. Hoje eles fazem parte dos fundamentos da moderna teoria de aprendizagem de adulto, nomeadamente:

  1. Adultos são motivados a aprender à medida em que experimentam que suas necessidades e interesses serão satisfeitos. Por isto estes são os pontos mais apropriados para se iniciar a organização das actividades de aprendizagem do adulto;
  2. A orientação de aprendizagem do adulto está centrada na vida; por isto as unidades apropriadas para se organizar seu programa de aprendizagem são as situações de vida e não disciplinas;
  3. A experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender; por isto, o centro da metodologia da educação do adulto é a análise das experiências;
  4. Adultos têm uma profunda necessidade de serem autodirigidos; por isto, o papel do professor é engajar-se no processo de mútua investigação com os alunos e não apenas transmitir-lhes seu conhecimento e depois avaliá-los;
  5. As diferenças individuais entre pessoas cresce com a idade; por isto, a educação de adultos deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem.

Muitos outros estudos foram continuados por vários pesquisadores, entre os quais Edward L. Thorndike (The Adult Learning -1928/USA), Lawrence P. Jacks (Journal of Adult Education-1929/Inglaterra).

Até 1940, apesar de haver elementos suficientes para a elaboração de uma teoria compreensível sobre a aprendizagem do adulto, esses elementos estavam dispersos e necessitavam de uma unificação teórica. Entre 1940 e 1950 esses princípios foram esclarecidos, reelaborados e incorporados à uma explosão de conhecimentos oriundos de várias disciplinas das ciências humanas. A Psicoterapia, por exemplo, foi uma das ciências que mais contribuíram para a Andragogia. Isto porque os psicoterapeutas estão voltados essencialmente para a reeducação e em especial da população adulta. A seguir alguns dos nomes de destaque nessa ciência e seus enfoques:

Sigmund Freud, apesar de não ter formulado uma teoria específica de aprendizagem, muito contribuiu com seus estudos sobre o "subconsciente e comportamento". Seus conceitos sobre ansiedade, repressão, fixação, regressão, agressão, mecanismos de defesa, projeção e transferência (bloqueando ou motivando a aprendizagem) têm sido objecto de discussão na formulação da teoria de aprendizagem.

Carl Jung, com sua visão holística, forneceu um grande suporte para a Andragogia, ao introduzir a noção da consciência humana possuir quatro funções, ou quatro maneiras de extrair informações das experiências para a internalização da compreensão: sensação, pensamento, emoção e intuição.

Erick Erikson estudou sobre as "oito idades do homem" para explicar os estágios do desenvolvimento da personalidade humana. As três últimas ocorrem na fase adulta:

  1. Oral-sensorial (confiança x desconfiança)
  2. Muscular-anal (autonomia x vergonha)
  3. Locomoção-genital (iniciativa x culpa)
  4. Latência (labor x inferioridade)
  5. Puberdade e adolescência (identidade x confusão de papéis)
  6. Jovem adulto (intimidade x isolamento)
  7. Adulto (geração x estagnação)
  8. Estágio final (integridade x desespero)

 

Abraham H. Maslow enfatizou o papel da segurança no processo de crescimento. A pessoa sadia interage, espontaneamente, com o ambiente, através de pensamentos e interesses e se expressa independentemente do nível de conhecimento que possui. Isto acontece se ela não for mutilada pelo medo e na medida em que se sente segura o suficiente para a interacção (Maslow,1972)

Carl R. Rogers, talvez o psicoterapeuta mais específico na educação de adultos, enfatiza que em geral, terapia é um processo de aprendizagem. Ele desenvolveu dezanove proposições para a teoria da personalidade e comportamento, baseado nos estudos da terapia do adulto. Com isto, ele fez um paralelo entre ensino centrado no estudante e terapia centrada no cliente. Para Rogers não podemos ensinar directamente outra pessoa; podemos, apenas, facilitar sua aprendizagem. Uma pessoa aprende, significativamente, somente aquelas coisas que percebe estarem ligadas com a manutenção, ou ampliação da estrutura do seu Eu.

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